Exclusion digital de genero: rompiendo el silencio en la ciencia de la informacion. - Vol. 43 Núm. 1, Enero 2020 - Revista Interamericana de Bibliotecologia - Libros y Revistas - VLEX 840976361

Exclusion digital de genero: rompiendo el silencio en la ciencia de la informacion.

AutorBerrio-Zapata, Cristian

Exclusao Digital de Genero: quebrando o silencio na Ciencia da Informacao

Gender Digital Divide: Breaking the Silence in Information Science

  1. Introducao

    A exclusao por motivos de genero na tecnologia da informacao e comunicacao (TIC) e um fenomeno que passa despercebido em funcao da sua sutileza, afetando atividades em que dificilmente se imaginaria a existencia de julgamentos e atribuicoes baseadas no sexo biologico e nao, na aptidao ou vocacao. Na ciencia e na tecnologia, as comunidades academicas, cientificas e profissionais mantem um regime sexista dissimulado, ainda que forte. Na tecnologia, a exclusao das mulheres e especialmente complexa pela ideia de "neutralidade" associada com estas atividades. Apesar de que nas TIC os avancos femininos sao notorios, ainda existem condicoes que dificultam ou restringem o acesso e o aproveitamento destas tecnologias pelas mulheres, fenomeno que temos nomeado como Exclusao Digital de Genero (EDG).

    Uma das formas comuns de excluir as mulheres do panorama das TIC tem sido o negligenciamento persistente das suas conquistas historicas na computacao (Light, 2013; Margolis & Fisher, 2003; Obama-White-House, 2018); outra e o desestimulo da sua participacao nas areas de formacao basica e superior da Ciencia da Computacao e disciplinas correlatas, o campo nomeado em ingles como STEM (Science, Technology, Engineering, Mathematics) (Flores-Solano, 2016; Laboratoria, 2018; Rapkiewicz, 1998); no campo laboral, ha exclusao em salarios e posicoes hierarquicas (Ahuja, 2002; Guzman-Acuna, 2013; Prescott & Bogg, 2011). Assim mesmo, a pesquisa sobre a EDG nao e impulsionada, nem a articulacao globalizada de grupos de discussao ao redor da problematica. Contudo, a EDG e uma area de trabalho forte na Espanha, Reino Unido, Canada e EUA, mas na America Latina a producao e escassa, pouco citada e desarticulada (Berrio-Zapata, Marin-Arraiza, Ferreira-da-Silva & das-Chagas-Soares, 2017; Berrio-Zapata & Goncalves Sant'Ana, 2017).

    Este artigo resgata a problematica da EDG, apresentando um resumo articulado dos trabalhos mais importantes relativos a este dominio, com o alvo de criar um mapa mental que integre conceitualmente o fenomeno, para que sirva como plataforma de consulta e debate para aqueles interessados em pesquisar sobre TIC e genero na America Latina, um tema central na Sociedade da Informacao.

  2. A Exclusao Digital e os Estudos de Genero: introducao ao dominio

    Para entender a EDG e necessario caracterizar a literatura que se localiza na intersecao entre os dominios da exclusao digital e os estudos de genero. Identificar este corpus de literatura foi o alvo da analise de Berrio-Zapata (2015) nos documentos mais citados sobre exclusao digital em tres linguas: ingles, espanhol e portugues. O trabalho incluiu 810 documentos, 1.276 autores, 621 instituicoes, 25 areas disciplinares e 74 paises. O assunto da exclusao digital afetando as mulheres, aqui nomeado como EDG, foi identificado como uma das oito tematicas mais relevantes enquanto citacao e producao, sob o assunto do "empoderamento". No entanto, a producao de publicacoes assim como sua citacao foi bem menor ao patamar dos outros temas identificados (1 % contra 13 % da area da Computacao, ingles; 12 % contra 42 % no assunto de desenvolvimento, espanhol: 0 % em portugues). (1) Os estudos se concentraram nos EUA, Canada, UK e Espanha e os autores mais citados sao todos de lingua inglesa: Joel Cooper, do Departamento de Psicologia da Universidade de Princeton e Tracy Kennedy e Barry Wellman, do Departamento de Sociologia da Universidade de Toronto. Em espanhol, a autora mais citada foi Cecilia Castano Collado, do Departamento de Economia Aplicada da Universidade Complutense.

    As instituicoes mais produtivas foram: Michigan State University, Johns Hopkins University, University of Illinois, Temple University, University of Calabar, University of Alabama, National Cancer Institute, e University of Maryland, todas elas de lingua inglesa. Na citacao, a Universidade Complutense liderou na Espanha, enquanto em ingles, as universidades de Princeton, Toronto, Temple, Michigan State, Warwick e as Nacoes Unidas foram as mais citadas (Berrio-Zapata, 2015).

    Em todo este panorama, o achado mais relevante foi encontrar que na America Latina nao existia producao amplamente citada, a qual parecia incompativel com a promocao de uma Sociedade da Informacao igualitaria na regiao. Um estudo posterior (Berrio-Zapata et al., 2017) confirmou que a pesquisa sobre EDG na America Latina e escassa, de qualidade heterogenea e desarticulada. Nao obstante os estudos sejam poucos, eles verificam os problemas ja considerados na literatura mundial, como a exclusao na socializacao tecnologica no lar e na educacao basica e superior, assim como desigualdades nas condicoes de emprego no mercado laboral, problemas que serao tratados neste artigo.

    A importancia de articular os trabalhos feitos fora da America Latina e mapear seus conceitos mais relevantes radica em que, ainda sendo populacoes distintas, as observacoes recolhidas tem todo sentido quando aplicadas na nossa regiao, e se tornam insumos importantes para entender a situacao de exclusao da mulher latina no que diz respeito as TIC.

  3. O desencontro entre a Ciencia da Computacao e os Estudos de Genero

    A primeira razao para a persistencia da EDG na informatica parece ser um desencontro entre a Ciencia da Computacao e os Estudos de Genero. Este desencontro nasce na associacao da Ciencia e a tecnologia com o masculino, o que cria pedagogias epistemologicamente excludentes com a mulher em ciencias altamente tecnologizadas como a Computacao (Kirk & Zander, 2002). Para Kirk e Zander, a "masculinizacao" da ciencia se consolidou com a ideia de "dominio sobre a natureza", ficando a natureza associada com o feminino. A tecnologia tornou-se a ferramenta necessaria para disciplinar a "natureza-femea" e faze-la funcionar na sua relacao com o homem. A participacao da mulher em atividades de ciencia e tecnologia foi desacreditada, e as mulheres cientistas na Tecnologia Informatica (TI) terminaram encarando estruturas semioticas masculinas que desvalorizaram a perspectiva feminina, instalando uma cultura machista de competicao e depredacao. Como resultado, temos um baixo numero de mentoras na ciencia da computacao e na TI, e a permanente sensacao de "dificuldade" por parte das estudantes mulheres, sempre reforcada pelos estereotipos sobre as "incapacidades naturais" da mulher.

    Paises como China, EUA, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Italia e Irlanda, tiveram um declinio na porcentagem de mulheres ingressando na area de informatica das universidades na decada de 2000 (Gil-Juarez, Feliu & Vitores-Gonzalez, 2010, 2012). Aparentemente, a EDG tinha sido enfraquecida pelo acrescimo do acesso feminino as TIC; mas detras disso, as mulheres estao cada vez mais infrarrepresentadas nos setores de educacao e nos empregos referentes a TI, e ausentes das suas altas hierarquias. Mesmo que a inclusao digital feminina "aumente em numero", em termos relativos continua sendo bem inferior a masculina (Enoch & Soker, 2006).

    Nos estudos de usuarios, a unica atividade na qual as mulheres superam os homens em tempo de uso e na busca de informacao medica na web, como insumo informacional para ser aplicado aos cuidados de familiares (Kennedy, Wellman & Klement, 2003). As mulheres tendem a usar a internet predominantemente como uma atividade de comunicacao e interacao, enquanto que os homens focam mais na busca de informacao e na ludica dos jogos online (Castano-Collado, Fernandez & Martinez-Cantos, 2011; Cotten, Anderson & Tufekci, 2009; Jackson, Ervin, Gardner & Schmitt, 2001; Kennedy et al., 2003). Estas tendencias de uso nao implicam a incapacidade feminina no dominio das TIC, e no entanto, essa conclusao terminou sendo implantada pelo discurso patriarcal. Kennedy et al. (2003) conclui que enquanto o mundo tiver papeis de genero excludentes, a Internet reproduzira estes papeis.

    A industria das TIC nao percebe a EDG como um problema relevante: nem na formacao profissional ou de pesquisa, nem no plano laboral. Desse jeito a pesquisa neste quesito e considerada desnecessaria e assim, se perpetua a naturalizacao do patriarcado tecnologico e seu vazamento nas arquiteturas informacionais dos produtos da industria da TI. Predomina a percepcao da tecnologia como uma atividade desprovida de interesses e valores. No entanto, sabemos que esta apreciacao e inconsistente com os fatos, pois a tecnologia e um fenomeno social com capacidade para moldar e regular as percepcoes, rotinas e espacos humanos, com o qual se torna uma cultura (Levy, 1999; Wajcman, 1996). O uso que se faz da tecnologia determina o desenvolvimento profissional e vital das pessoas. Cada vez que um sujeito "interage" com a TI esta interagindo com o genero, e assim fica reproduzindo um mundo onde as experiencias tecnologicas foram historicamente monopolizadas por homens. As barreiras que atingem as mulheres no mundo fisico sao conduzidas ao mundo virtual, e ali espelham sua acao limitadora (Castano-Collado, Fernandez, Vasquez-Cupeiro & Martinez-Cantos, 2008).

    Para explicar melhor esta situacao, e necessario entender os fenomenos de difusao tecnologica e como eles imprimem uma trajetoria historica de exclusao em certos grupos sociais, questao que sera discutida na continuacao.

  4. Difusao Tecnologica e a historia da exclusao da mulher na TI

    Da mesma forma em que um virus se espalha com velocidades diferentes em uma comunidade, a tecnologia penetra de forma desigual nas sociedades devido a fatores historicos, economicos, contextuais e individuais. A Teoria da Difusao Tecnologica (Rogers, 2003) estima que uma minima quantidade de privilegiados, menos de tres por cento, conseguem dominar as tecnologias mais novas no seu estagio de introducao. Um segundo grupo, mais numeroso, conseguira usar essas tecnologias uma vez terminada sua fase de introducao; superada a fase de correcao de erros e...

Para continuar leyendo

Solicita tu prueba

VLEX utiliza cookies de inicio de sesión para aportarte una mejor experiencia de navegación. Si haces click en 'Aceptar' o continúas navegando por esta web consideramos que aceptas nuestra política de cookies. ACEPTAR