Library Science and the "Social Construction"/ La bibliotecologia y la "construccion de lo social"/ A biblioteconomia e a "construcao do social". - Vol. 41 Núm. 2, Mayo 2018 - Revista Interamericana de Bibliotecologia - Libros y Revistas - VLEX 727650601

Library Science and the "Social Construction"/ La bibliotecologia y la "construccion de lo social"/ A biblioteconomia e a "construcao do social".

AutorTanus, Gabrielle Francinne
  1. Introducao

    A Biblioteconomia e um campo do conhecimento e esta associada ao plano empirico da existencia das primeiras bibliotecas ainda na Antiguidade, trazendo em seu desenvolvimento tres grandes momentos, nomeados de fases: pre-cientifica, proto-cientifica e cientifica (Pulido & Morrilas, 2006). Esta ultima--fase cientifica--tem sua origem vinculada aos acontecimentos do seculo XIX, dentre eles, no plano da ciencia, o desenvolvimento e a consolidacao do positivismo--primeira corrente de pensamento das Ciencias Sociais, inaugurada por Auguste Comte e continuada por Emile Durkheim, que delineou o "fato social" como objeto de estudo da Sociologia. Durkheim e considerado tambem "pai" do funcionalismo, uma vertente de pensamento preocupada com a ordem social e com as funcoes desempenhadas para o bom funcionamento da sociedade. De modo geral, o positivismo objetivava um metodo unico, o mesmo das ciencias naturais e exatas as ciencias sociais; atribuia um papel exterior ao individuo inserido em uma realidade estavel; busca de regularidades e leis constantes, tendo como guia os pressupostos da matematica e a observacao dos fenomenos (Collins, 2009).

    Num primeiro momento, no que se relaciona a Biblioteconomia, Alfaro-Lopez (2010) destaca que o positivismo foi importante para a constituicao da cientificidade da Biblioteconomia, atrelada a uma "vontade de servico", relacionada ao surgimento da biblioteca publica, no seculo XIX. Contudo, sem adentrar nesse processo historico de constituicao das bibliotecas e da Biblioteconomia, salienta-se que a estrutura positivista do pensamento possibilitou aquela uma elevacao como uma "ciencia positiva" (Araujo, 2013). Ademais, a influencia mais marcante do positivismo na Biblioteconomia, no plano das praticas e do empirico, revela-se a partir dos esquemas de catalogacao e classificacao, que buscavam a representacao do conhecimento, bem como o pensamento voltado "para dentro", aos documentos e as colecoes custodiadas nas bibliotecas (Araujo, 2013).

    As influencias positivistas e do funcionalismo na Biblioteconomia colaboraram para conformar as caracteristicas da corrente de pensamento "ordenamento do social", a qual traz a marca de uma compreensao pela ordem, integracao e manutencao do sistema social, partindo das estruturas para olhar o social, isto e, de um "holismo metodologico". Outra corrente que se faz presente na Biblioteconomia e a "contradicao do social", marcada pelo pensamento critico e marxista, que busca desvelar as contradicoes e os conflitos que perpassam e estruturam a sociedade tambem a partir de um olhar macrossocial. Neste trabalho, concentra-se em explorar uma terceira corrente de pensamento das Ciencias Sociais e Humanas, pautada pela "construcao do social", que se concentra nas multiplas teorias que enfeixam as analises, e que tem em comum o fato de tomarem os individuos como ponto de partida de suas investigacoes, isto e, um olhar microssocial com vistas a compreensao das interacoes individuais e da construcao social da realidade (Lallement, 2008).

    Essas correntes de pensamento supracitadas sao nomeadas por Alexander (1987) de "teorias coletivistas", "teorias do conflito" e "teorias individualistas", as quais a partir dos diversos discursos possibilitam agrupa-las em escolas e tradicoes do pensamento sociologico. Ademais, essas teorias conformam um movimento mais pendular do que linear, expresso no movimento dialetico de abordagem dos seguintes conceitos: sociedade x individuo; coletivo x individual; acao x estrutura; macro e microssocial etc., situando-nos nesse segundo momento do movimento angular do pendulo, focado na acao dos individuos. Para situar e relacionar a discussao pautada pela "construcao do social" dentro do campo da Biblioteconomia foi convocado intencionalmente as seguintes producoes teoricas: Bases teoricas y filosoficas de la Bibliotecologia (2.a ed.), de Miguel Rendon-Rojas (2005); Estudios epistemologicos de Bibliotecologia, de Hector Guilhermo Alfaro-Lopez (2010); Expect more: melhores bibliotecas para o mundo complexo, de David Lankes (2015); e Elementos para una teoria bibliotecaria, de Javier Brown-Cesar (2000).

    Acredita-se que a analise discursiva dos saberes da Biblioteconomia possibilita uma maior compreensao desse campo, que ainda parece pouco explorado teoricamente, dentro de um contexto em que varios discursos diferentes sao tensionados e relacionados com as Ciencias Sociais e Humanas. Outrora, salie nta-se que o extrato deste trabalho faz parte da pesquisa de doutorado defendida no programa de pos-graduacao em Ciencia da Informacao (UFMG), cujo objetivo geral consistiu na analise dos discursos da Biblioteconomia produzidos por autores norte-americanos, brasileiros e mexicanos, bem como estabelecer uma relacao com as Ciencias Sociais e Humanas, em especial, a partir das correntes de pensamento: ordenamento do social; contradicao do social e construcao do social.

  2. Corrente de pensamento: construcao do social

    A proliferacao de teorias e benefica para a ciencia, ao passo que a uniformidade enfraquece o seu poder critico. A uniformidade, alem disso, ameaca o livre desenvolvimento do individuo (Feyerabend, 1977, p. 10)

    Nas Ciencias Sociais e Humanas e instaurado outro olhar para a realidade diante dos fenomenos sociais, diferente daquele baseado na logica de leis gerais ou universais. Um olhar tambem diferenciado em relacao ao sujeito como um individuo nao mais resultante da estrutura social e imerso na realidade estavel e pronta para ser apreendida pelo pesquisador. Esse deslocamento para a compreensao dos fenomenos do primado do sujeito teve como precursor o filosofo alemao Wilhelm Dilthey, autor do livro Introducao as ciencias humanas: tentativa de uma fundamentacao para o estudo da sociedade e da historia (2010). (1) Nessa obra antipositivista Dilthey aborda que as "ciencias do espirito" nao devem ser analisadas sob o olhar das "ciencias da natureza", pois o objeto daquela ciencia, o homem, e dotado de consciencia, agindo em funcao dos valores, das crencas, de representacoes e nao se limitam a reagir aos estimulos do meio ambiente.

    Na esteira deste pensamento, encontra-se tambem o sociologo alemao Max Weber (1864-1920) que estabeleceu as bases teorico-metodologicas da Sociologia Compreensiva, cuja base e o construtivismo social. Ao lado dele, encontra-se tambem o construtivismo metodologico, que da origem a conceitos proprios para a investigacao objetiva da realidade (Domingues, 1995; Minayo, 2010). Essa corrente de pensamento esta inserida e se desenvolve, inicialmente, em outro contexto, a Alemanha, onde foi constituido um diferencial a construcao do pensamento voltado para a diferenca, ou seja, para a diversidade e a busca da compreensao qualitativa dos processos historicos e sociais. Segundo Costa (2005), isso ocorreu, porque diferente da Franca e da Inglaterra, inseridas num pensamento urbano e industrial, sede do pensamento burgues da Europa, a Alemanha se direcionou mais tardiamente para o social a partir de outras influencias das ciencias humanas, como o Historicismo e a Filosofia alema, sobretudo, com o Idealismo de Emmanuel Kant.

    Weber, em Ciencia epolitica: duas vocacoes (2008), (2) considera a sociologia como ciencia empirica da acao, focada na compreensao e interpretacao da obra humana, uma "ciencia da cultura". A construcao do pensamento social se perfaz como ciencia essencialmente hermeneutica e distante de explicacoes metafisicas e da ordem do senso comum, propondo como objeto de estudo e de analise as investigacoes das condutas humanas ou "acoes sociais", acoes individuais dos sujeitos, as quais sao carregadas de sentido e influencia a acao--presente, passada ou futura--de outros individuos/agentes. No livro Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. (2009), (3) ele esclarece que a selecao dos fenomenos culturais e subjetiva e singular; assim o cientista dotado de valores e ideias deve ser guiado por uma atividade racional, desvinculando-se da ideologia e interesses, colocando-se do lado oposto ao homem da politica, dotado de um apurado julgamento de valor. Sendo necessario o cientista expor os valores e as escolhas, de modo consciente, junto as pesquisas e controla-los atraves de procedimentos de analise para um desenvolvimento racional da atividade.

    E instituido no campo das ciencias um "divisor de agua", tendo em vista que o conhecimento sobre a realidade passa a ser visto de modo relativo, segundo contextos especificos e nao mais pelo vies do materialismo historico e da totalidade ou por meio das estruturas. A Sociologia Compreensiva ciencia historico-cultural fragmenta os contextos de modo a possibilitar varias interpretacoes sobre os fenomenos sociais e sobre os individuos, distanciando-se das generalizacoes e do efeito coletivo gerado pelas abordagens anteriores (ordenamento do social e contradicao do social) que tendiam a apagar a subjetividade dos sujeitos, os quais eram coagidos pelas pressoes externas e pelos fatos sociais (Lalle ment, 2008). Dessa forma, no campo do pensamento sociologico foi Weber quem inseriu definitivamente a Sociologia no rol das Ciencias Sociais e Humanas com as suas devidas especificidades e particularidades, sendo, portanto, considerada como uma ciencia preocupada com a compreensao interpretativa da acao individual--essencialmente subjetiva--dotada de sentido e significacoes e fruto das relacoes entre os atores sociais em suas realidades que sao infinitas e vinculadas a multiplas causalidades (Minayo, 2010).

    Desse modo, e operada uma virada do ponto de vista, que antes partia de um todo a assuncao do individuo nao mais determinado pelas regras e normas da...

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