Determinantes do desempenho empreendedor e inovador nas regioes transfronteiricas. - Vol. 28 Núm. 70, Octubre 2018 - Revista Innovar - Libros y Revistas - VLEX 742625561

Determinantes do desempenho empreendedor e inovador nas regioes transfronteiricas.

AutorNat
CargoCompetitividad y Gesti

DETERMINANTES DEL DESEMPEÑO EMPREENDEDOR E INNOVADOR EN LAS REGIONES TRANSFRONTERIZAS

LES DÉTERMINANTS DE LA PERFORMANCE ENTREPRENEURIALE ET INNOVANTE DANS LES RÉGIONS TRANSFRONTALIÈRES

DETERMINANTS OF ENTREPRENEURIAL AND INNOVATION PERFORMANCE IN CROSS-BORDER REGIONS

Introdução

A necessidade de estimular os negócios locais e a indústria regional tem dado origem a pesquisas sobre as áreas empresarial e de empreendedorismo como fonte de renovação e desenvolvimento (Arbuthnott e von Friedrichs, 2013) e como motor de desenvolvimento económico e social de um território (García-Cabrera, García-Soto e Días-Furtado, 2015). A renovação de uma região pode estar associada aos novos avanços das suas indústrias locais (Amin, 1999; Malecki, 1991, 1994), que poderão ser facilitados através de clusters industriais regionais (Porter, 1990; Rocha, 2004; Porter e Miranda, 2009; Arbuthnott e von Friedrichs, 2013).

Essas dinâmicas regionais podem estar relacionadas com a existência de uma mentalidade empreendedora existente numa região (von Friedrichs e Boter, 2009). Todavia, o conhecimento sobre estas questões deriva fundamentalmente da pesquisa com foco em regiões centrais, isto é, com dinâmicas demográficas e de desenvolvimento económico positivo e padrões de urbanidade com influência de média ou grande escala. Os estudos desta temática em regiões de fronteira são escassos e relativamente recentes.

Apesar de nem todas as regiões de fronteira apresentarem características de periferia ou rurais, como, por exemplo, Galiza e Norte de Portugal (Espanha-Portugal), Foz do Iguaçu (Brasil-Paraguai), Niágara (Canadá-Estados Unidos da América), fronteiras da China-Macau, a grande maioria das regiões de fronteira da União Europeia apresenta-se ainda como regiões periféricas (Cavaco, 1995; Ferreira, 1998; Silva, 2015); muitas vezes consideradas marginais e distantes dos centros de decisão e de atividade económica, carecendo de estratégias de desenvolvimento específicas (Silva, 2015). O processo de integração plena da União Europeia, com o desenvolvimento harmonioso dos seus países e também das suas regiões, ainda foi concretizado. A desejada convergência das regiões tem sido uma preocupação, mas não tem sido conseguida pelos diversos quadros comunitários de apoio (qca), na medida em que continuam a persistir disparidades regionais, em particular nas regiões localizadas nas fronteiras dos países-membros da União Europeia (Fath e Hunya, 2001; Santamaría e Pires, 2016).

Neste processo, as regiões de fronteira com características de periferia assumem particular importância na Estratégia Europa 2020 (Comissão Europeia, 2010), que contempla diversos instrumentos para promover o seu desenvolvimento e a coesão territorial, sendo reforçada a importância de encontrar e desenvolver instrumentos que incentivem, encorajem e apoiem o empreendedorismo nas regiões. O empreendedorismo nas regiões surge como um dos investimentos prioritários em particular nas regiões de fronteira, com o Programa Operacional Interreg Europe (Comissão Europeia, 2015).

Considere-se que, no contexto da fronteira da Beira Interior Norte e Província de Salamanca (BIN-SAL), predominam os concelhos e comarcas rurais, caracterizados por baixa densidade de empresas com valores de 2,5 empresas por [km.sup.2] em 2011 para a BIN e de 1,9 empresas por [km.sup.2] para a Província de Salamanca, de acordo com Macías, Rodríguez, Fernandes, Natário e Braga (2014). Simultaneamente, a desarticulação da estrutura produtiva tradicional nesta região não tem conhecido a recomposição esperada, por via de projetos ou financiamento promovidos, existindo a necessidade de desenvolver processos de análise mais finos e reconsiderar as estratégias de incentivo à criação de empresas e ampliação do mercado de trabalho em face da sua localização e do afastamento de centros de decisão.

Assim, o presente estudo insere-se neste contexto de regiões de fronteira periféricas, no seguimento dos estudos realizados por Cavaco (1995) e Silva (2015), e tem como objetivo identificar fatores que possam influenciar os processos de renovação e a atitude empreendedora nas regiões de fronteira, com a especificidade de periferia. Pretende-se, simultaneamente, encontrar determinantes do desempenho empreendedor e inovador nestas regiões com caraterísticas singulares e distintas dos grandes centros, com especificidades próprias de fronteiras de baixa densidade e marcadas pela sua ruralidade, cujas evoluções socioeconómicas têm sido penalizadoras e exigem o conhecimento dos elementos diferenciadores dos processos de inovação e empreendedorismo com sucesso como referem Policarpo e Mogollón (2015).

As regiões de fronteira com características de regiões periféricas, que estão localizadas longe de áreas metropolitanas centrais e de grandes mercados dinâmicos (Arbuthnott e von Friedrichs, 2013), apresentam efeitos de perda e fragilidade, quer por via da penalizadora evolução da sua população, diferentes regimes laborais e fiscais, quer pela ausência de estratégias coletivas e concertadas de coesão económica e social. Estas regiões tendem a apresentar condições menos favoráveis à criação e desenvolvimento de atividades empresariais (Oinas e Malecki, 1999). Além disso, a prestação de serviços de desenvolvimento de empresas locais é ineficaz e os avanços empresariais lentos (Lagendijk, 2000; Arbuthnott e von Friedrichs, 2013). Refira-se, ainda, que fronteira é um espaço bipolar e multiforme, um meio geográfico que exige uma quase necessidade de se transportar os seus limites, onde este "ambiente plural transformou as fronteiras em territórios singulares" (Oliveira, 2005, p. 380).

Deste modo, neste trabalho de pesquisa, procura-se, por um lado, ilustrar as principais características das empresas das regiões de fronteira, o que distingue as mais empreendedoras e dinâmicas das menos empreendedoras, e, por outro lado, gerar novos conhecimentos para melhorar o entendimento sobre os determinantes do desempenho empreendedor e inovador nas regiões transfronteiriças com baixos indicadores de desenvolvimento.

Adicionalmente, o estudo proporciona a descrição e a análise do fenómeno pioneiro sobre o empreendedorismo nas regiões de fronteira de Portugal e Espanha, particularmente inseridas nas Beira Interior Norte (Portugal) e Província de Salamanca (Espanha), e os novos conhecimentos gerados visam reforçar os entendimentos sobre o empreendedorismo que ocorre dentro de ambientes de negócio não centrais. O estudo pode também ajudar os decisores políticos na consecução das metas de desenvolvimento, de renovação regionais atuais e de redução das assimetrias regionais dentro da União Europeia.

Este artigo está dividido em seis secções. Após a introdução, na segunda secção, reflete-se sobre os principais determinantes do desempenho empreendedor e inovador nas regiões de fronteira, apresentando-se o modelo e definindose as hipóteses a testar. Na terceira secção, apresenta-se a metodologia e, nas secções quatro e cinco, é feita a apresentação e análise dos resultados. Finalmente, discutem-se as conclusões.

Modelo e definição de hipóteses

O conceito de empreendedor foi amplamente discutido por Vale (2014), que discute as suas várias vertentes: da economia, da inovação, da psicologia, da sociologia, da sociologia económica. O conceito de empreendedorismo, associado à vertente da inovação (Vale, 2014) surge enquadrado nas teorias de Schumpeter (1934), distanciando-se da perspetiva motivational defendida pelo GEM (2012) e por Vale, Corrêa e Reis (2014). O empreendedorismo está assim, por um lado, associado às caraterísticas pessoais dos indivíduos (GEM, 2012; Vale et al., 2014; Vale e Corrêa, 2015) e, por outro, associado aos processos de inovação, com destaque para os processos territoriais de inovação (Lundvall, 1992; Edquist, 1997, Natário e Neto, 2006; Oliveira, 2013).

O empreendedorismo tem sido definido e promovido como uma maneira diferenciada de alocação de recursos, proatividade e otimização de processos organizacionais, sempre de forma criativa, visando à diminuição de custos e à melhoria de resultados, estando associado à criação de novos negócios, geralmente micro e pequenas empresas (Aldrich e Martinez, 2001).

Não só o empreendedorismo como também a inovação são essenciais para o desenvolvimento e para o aumento da competitividade da economia. Não obstante os esforços que têm vindo a ser feitos pelos diversos governos, ainda persistem dificuldades estruturais, pelo que o empreendedorismo e a inovação continuam a carecer de intervenções prioritárias. Neste contexto, as prioridades da estratégia Europa 2020 e da sua iniciativa Innovation Union são referenciais para o desenvolvimento da política de inovação em Portugal para os próximos anos (Macías et al., 2014; Natário, Braga e Fernandes, 2015).

O empreendedorismo nas regiões de fronteira surge na linha dos processos territoriais de inovação (Lundvall, 1992; Edquist, 1997), mas assume caraterísticas distintas das regiões centrais e mais desenvolvidas. Naquelas regiões, o empreendedor enfrenta uma série de desafios e é limitado por muitos fatores, incluindo a procura local limitada, a pequena dimensão do mercado, a falta de acesso a mercados extrarregionais, a baixa densidade populacional e a consequente falta de oportunidade para a rede de interação com os atores locais, o uso generalizado das tecnologias da informação e as dificuldades no acesso ao capital (Fuller-Love, Midmore e Henley, 2006; Macías et al., 2014).

As regiões de fronteira da BIN-SAL caracterizam-se por serem predominantemente rurais, com baixa densidade populacional e de empresas, e desarticulação da estrutura produtiva tradicional. Estas regiões de fronteira sentem necessidade de desenvolver processos de análise mais finos e de reconsiderar as estratégias de incentivo à criação de empresas e à ampliação do mercado de trabalho. O fomento do empreendedorismo nestas regiões é, assim, uma estratégia fundamental para a...

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